sexta-feira, 11 de julho de 2014

Foi pior, muito pior, do que 1950


A derrota sofrida pela seleção brasileira de 7 a 1 contra a Alemanha pela Copa do Mundo de 2014 em 8 de julho foi uma tragédia muito maior do que aquela ocorrida em 1950 quando perdemos de 2 x 1 do Uruguai em pleno Maracanã. Mas não é propriamente pelo resultado que a situação é mais assustadora hoje. Em 1950 a derrota foi um triste episódio no processo de desenvolvimento do futebol brasileiro que viria a se tornar a maior potência futebolística do mundo. Agora, a situação é diferente, parece ser a comprovação de um duro processo de decadência.

Em 1950 a Europa pós guerra ainda se encontrava em processo de reconstrução e a realização de uma nova Copa do Mundo teria que ser feita fora do velho continente - a anterior havia sido realizada em 1938 na França. A escolha do Brasil não deixou de ser um reconhecimento do seu protagonismo neste esporte. Vice campeão em 50, o Brasil foi vencedor do Pan-Americano dois anos depois (o primeiro título internacional do futebol brasileiro); em 1954 o país foi eliminado nas quartas de final pela vice campeã Hungria de Puskas por 4 x 2 para ser campeão em 1958 e bi campeão em 1962. Houve um vexame em 1966 com a eliminação ainda na primeira fase causada, segundo jornalistas esportivos, por problemas na preparação da seleção para, em 1970, atingir a consagração no México com a conquista do tri campeonato.

Mas os anos 70 ficaram marcados por novas derrotas, pela desorganização dos campeonatos locais e pela ingerência do governo militar nas estruturas do esporte mais popular do país. Os anos de 1980, em pleno processo de abertura política, começam com a Copa da Espanha (1982) e o chamado “futebol-arte” de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e outros que, apesar da derrota sofrida contra a Itália (3 x 2), encantaram o mundo e deram início a fase de exportação maciça de craques para o futebol mundial, principalmente europeu.

O Brasil só seria vencedor novamente em 1994, nos EUA, decidindo o título nos pênaltis e em 2002, cujos jogos foram realizados no Japão e na Coreia. As seleções desta época apresentaram nomes mundialmente famosos como Roberto Carlos, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo e Romário, entre outras estrelas que brilhavam em campeonatos pelo mundo afora.

Apesar de ter sofrido derrotas dramáticas neste intervalo, como contra a França em 1998 (3 x 0), nenhuma delas adquiriu a dimensão do fracasso atual. Estas derrotas eram vistas como batalhas épicas onde o futebol brasileiro havia sido derrotado por oponentes que souberam se aproveitar de circunstâncias propícias, o que não diminuía a dimensão do futebol brasileiro, aliás, engrandeciam mais os vencedores.
Se havia sucesso e reconhecimento mundial, internamente, a situação era diferente. Enquanto o nível do futebol praticado em outros países evoluía, transformando antigos “pernas de pau” em equipes competitivas, o Brasil permanecia estacionado em sua glória.

Os campeonatos realizados por aqui naufragavam em jogos sofríveis enquanto empresários enriqueciam negociando jogadores com o exterior. Os melhores atletas de futebol do planeta eram brasileiros mas absolutamente nenhum deles permaneciam muito tempo em clubes brasileiros, todos partiam em busca do dinheiro que a economia-futebol do país da bola não podia lhes oferecer. 

O resultado foi a mercantilização do esporte, esvaziamento dos estádios, enfraquecimento dos clubes, atraso na parte tática e preparação técnica, a perda de receitas, enfim, o início da decadência do melhor futebol do mundo.

Ironicamente, em uma Copa onde havia, por parte de muitos, o temor de que a desorganização desse o tom (pelo contrário, o campeonato só tem recebido elogios), o maior problema acabou sendo o nosso futebol.
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Se quiser conhecer a opinião de alguns jornalistas esportivos e ex jogadores sobre a derrota contra a Alemanha lei AQUI.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A Copa das surpresas


As avaliações sobre a Copa do Mundo 2014 eram bastante divergentes. A presidente Dilma Roussef e seus apoiadores diziam que esta seria a “Copa das Copas”; para os oposicionistas seria o prenúncio do caos e de um vexame internacional; para setores radicias do movimento social a coisa era colocada nos termos do grito de guerra “não vai ter Copa”. Aparentemente só sobrava de positivo o favoritismo da seleção canarinho – o que era reconhecido pelas bolsas de apostas mundo afora.

Aliás, a julgar pelo artigo de César Felício (Brasil na Copa: welcome to the jungle – Valor Econômico pág. A9, 12 de junho de 2014) o clima de pessimismo era geral. No texto o jornalista relata encontro da presidente Dilma com correspondentes estrangeiros, ocorrido em 3 de junho: “Mas dos 21 meios de comunicação que escreveram sobre o país nos últimos dias, mesmo depois do exercício de sedução de Dilma, 19 publicaram análises negativas”.

Para explicar esta visão o ex-presidente Lula advoga a tese de que o oposicionismo da imprensa brasileira contaminou a estrangeira. Em almoço realizado em 24 de julho em São Paulo com empresários e diplomatas do exterior, Lula afirmou que “Quando eu ganhei as eleições, as pessoas levantavam muita dúvida se o Lula ia ter condições de governar o país. É a mesma coisa com relação à Copa. Agora eu tenho recebido notícias de que os mesmos jornais, os mesmos estrangeiros que diziam que a Copa não ia acontecer, agora estão se rendendo.” (Valor Econômico pág. A11, 25 de junho).

Por tudo isto, o Mundial começou sob tensão. Mas, iniciada as partidas, a coisa foi se reconfigurando, as boas notícias aparecendo e surpreendendo.

Uma delas aconteceu no setor de turismo. O Boletim de Desempenho Econômico do Turismo, apresenta pesquisa feita pelo Ministério do Turismo e pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, que relata crescimento de 7,1% no trimestre (janeiro/março) em comparação ao mesmo período do ano passado, um crescimento muito acima das mais otimistas perspectivas para o PIB. Este incremento é avaliado pelos empresários do setor como resultado da Copa, mesmo antes do evento ter se iniciado.

Nas redes sociais a repercussão é impressionante. Segundo o jornal Propaganda e Marketing (30 de junho) o Google registrou até 27 de junho cerca de 1,2 bilhão de buscas com a palavra Copa; o twitter registrou mais de 300 milhões de tweets comentando o mundial em duas semanas de jogos (o dobro do registrado nos Jogos Olímpicos de 2012) e o Facebook anunciou que este é o evento mais popular da história. Também foi noticiado que audiência da partida entre EUA e Portugal foi maior do que a final da NBA (basquete) MLB (basebol).

Dentro do campo o sucesso também é inegável. As partidas estão empolgantes e os resultados surpreenderam com a grande quantidade de gols. Países sem grande tradição no esporte surpreenderam e alguns tradicionais decepcionaram. A Espanha que o diga.

Infelizmente, uma surpresa negativa foi a instabilidade da seleção brasileira em sua própria casa, o que tem trazido apreensão à torcida. Definitivamente esta é a Copa das surpresas.