sábado, 30 de agosto de 2014

Tudo saiu errado para Marina mas parece que deu certo


A morte de Eduardo Campos em um trágico acidente aéreo ocorrido em 13 de agosto de 2014 abriu caminho para a volta de Marina Silva ao centro do debate político. Ocupando o cargo de vice-presidente na chapa do PSB, com o falecimento do titular coube a ela assumir o posto para, em seguida, alterar o quadro eleitoral que caminhava para a cristalização da disputa entre PT e PSDB, repetindo os últimos embates eleitorais.

Nascida na selva amazônica, filha de camponeses que extraiam borracha na floresta, Marina Silva iniciou sua carreira política militando na direção da Central Única dos Trabalhadores do estado do Acre, depois ingressou no Partido dos Trabalhadores e foi eleita vereadora, deputada estadual, senadora e nomeada ministra do Meio Ambiente no governo Lula. A carreira de Marina da Silva, assim como a de Lula, são exemplos do quanto a democracia brasileira avançou e se abriu às classes sociais menos favorecidas.


Mas a trajetória política destas duas lideranças populares se separou a partir de 2008 quando ela deixou o governo por divergir da condução da política desenvolvimentista que era tocada pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, atual presidente do Brasil. A construção da hidroelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, foi, segundo noticiado, o estopim para sua saída. A defesa do meio ambiente feita pelo seu ministério era vista, segundo alguns setores, como empecilho ao crescimento econômico. 
 

Em agosto de 2009 Marina deixa o PT e se filia ao Partido Verde, pelo qual concorre às eleições para presidente do Brasil em 2010 quando recebe 19.636.359 votos. Eleição que foi vencida pela sua ex-colega de governo, Dilma Roussef.


Abandona o PV em junho de 2011 e anuncia o projeto de criação de seu próprio partido, o Rede Sustentabilidade, para o qual precisaria do apoio formal de 500 mil assinaturas de eleitores para obter o devido registro legal. Apesar de sua popularidade, arregimenta 492 mil eleitores e não consegue regularizar o partido no prazo legal (encerrado em 5 de outubro de 2013) para concorrer às eleições que acontecerão neste ano de 2014.


A partir deste momento a estrela política de Marina parece entrar em decadência. 
 

Onde ela fracassou políticos de menor expressão obtiveram sucesso. O ex prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, montou o seu PSD – Partido Social Democrático, em 2011. Outras duas agremiações foram organizados em 2013, o Partido Solidariedade, liderado pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força e, o mais surpreendente de todos, o Pros – Partido Republicano da Ordem Social, presidido por Eurípedes Júnior, ex-vereador da cidade de Planaltina, interior do estado de Goiás.


Sem um partido próprio, a promessa de implantar “um novo jeito de fazer política”, ancorado num imaginário de sustentabilidade ecológica e na pós-modernidade digital das redes sociais naufraga deixando a candidata, apoiadores e mentores intelectuais em um dilema angustiante; o que fazer?

A solução encontrada foi se filiar ao PSB – Partido Socialista Brasileiro, do também ex-aliado político do PT, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que abandonou a coligação petista para concorrer ao governo federal.


Às pressas, esta foi a solução encontrada para evitar o ostracismo político de Marina Silva e capitalizar seus votos para a sucessão presidencial. A iniciativa foi saudada pela imprensa oposicionista (maldosamente chamada por alguns de PIG – Partido da Imprensa Golpista) como uma “jogada de mestre” que poderia impedir a vitória de Dilma Roussef ainda no primeiro turno da eleição presidencial e romper a polarização PT X PSDB lançando uma nova força “progressista” no campo político.


Estas especulações políticas eleitorais foram infladas pela conjuntura em que os fatos aconteceram. Após o ápice dos protestos populares ocorrido no mês de junho de 2013 – que continuou com menor intensidade nos meses seguintes – a popularidade do governo Dilma foi abalada alimentando os sonhos oposicionistas.


Enquanto Dilma sempre foi candidata natural à reeleição, a oposição buscava um nome. Neste quadro, a aliança Campos/Marina soou como uma alternativa política para o enfrentamento contra o PT onde Marina e Campos representavam o “novo”. Por mais vago que o adjetivo venha a ser, em um período onde o protesto popular se fez presente nas ruas, a aliança soou como uma grande vantagem.


Mas, passado o impacto da novidade, os problemas da parceria inusitada afloraram. O primeiro choque se deu no campo das personalidades das duas lideranças; enquanto Eduardo Campos é tido como político pragmático e desenvolvimentista, Marina é conservadora nos aspectos sociais como descriminalização do aborto e união homoafetiva, além de ser ironicamente tachada de “sonhática”. 
 

Assim, Marina representava um reforço momentâneo para a campanha do PSB que, pelo menos por parte dos aliados da ex-senadora, era visto como uma solução intermediária até a oficialização futura da Rede Sustentabilidade.


O colunista da Carta Capital, Marcos Coimbra escreveu que “Marina Silva comporta-se como a convidada bem trapalhona na festa de Eduardo Campos. Desde sua filiação ao partido, o governador de Pernambuco amarga uma dor de cabeça após a outra” (n. 773 – 6/11/2013, pág.44). A presença de Marina – e sua plataforma ecológica – fez com que o DEM, partido ligado aos produtores rurais, abandonasse a ideia de uma coligação com o PSB, projeto que Eduardo Campos estava costurando com o deputado Federal Ronaldo Caiado há um bom tempo. A partir destas constatações o cientista político, Pedro Floriano Ribeiro, se perguntou em artigo publicado no Valor Econômico de 8 de novembro de 2013. “Quando a campanha esquentar, os mundos de Poliana e da realpolitik certamente irão se atritar diversas vezes. Marina irá se adaptar ao projeto pessoal de Eduardo Campos, ou tentará depurar o neoaliado e as alianças que vêm sendo costuradas há tempos?”


Após a morte de Eduardo Campos este quadro se alterou. Embalado pela comoção pública causada pelo acidente que vitimou seu candidato (e parte de sua equipe de campanha) à direção do PSB não restou outra opção a não ser conduzir a problemática aliada à cabeça da chapa.

Oficializado o ato, os problemas urgiram. O coordenador-geral da campanha do PSB, Carlos Siqueira, deixou o cargo afirmando que ela não representa o legado de Campos e atirou “Minhas relações estão cortadas com essa senhora”.


Agora o tabuleiro do jogo eleitoral está alterado. A popularidade da candidata Marina e o choque causado pela morte de Eduardo Campos, segundo as primeiras pesquisas realizadas após o acidente, mostram uma candidatura forte que ultrapassou o candidato do PSDB e ameaça, inclusive, a reeleição do PT. Até o momento os altos índices nas pesquisas e o pragmatismo eleitoral mantêm a coligação unida. Resta saber se esta situação se sustenta e se as contradições internas desta aliança não se encarregarão de revelar a fragilidade de uma candidata, que, na prática, não tem partido de sustentação e se vê obrigada a honrar compromissos assumidos por um “partido-hospedeiro” ao qual se viu forçada a aderir por conveniência.

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