A morte de Eduardo Campos em um trágico acidente aéreo ocorrido em 13 de agosto de 2014 abriu caminho para a volta de Marina Silva ao centro do debate político. Ocupando o cargo de vice-presidente na chapa do PSB, com o falecimento do titular coube a ela assumir o posto para, em seguida, alterar o quadro eleitoral que caminhava para a cristalização da disputa entre PT e PSDB, repetindo os últimos embates eleitorais.
Nascida
na selva amazônica, filha de camponeses que extraiam borracha na
floresta, Marina Silva iniciou sua carreira política militando na
direção da Central Única dos Trabalhadores do estado do Acre,
depois ingressou no Partido dos Trabalhadores e foi eleita vereadora,
deputada estadual, senadora e nomeada ministra do Meio Ambiente no
governo Lula. A carreira de Marina da Silva, assim como a de Lula,
são exemplos do quanto a democracia brasileira avançou e se abriu
às classes sociais menos favorecidas.
Mas
a trajetória política destas duas lideranças populares se separou
a partir de 2008 quando ela deixou o governo por divergir da condução
da política desenvolvimentista que era tocada pela então
ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, atual presidente do
Brasil. A construção da hidroelétrica de Belo Monte, no rio Xingu,
no Pará, foi, segundo noticiado, o estopim para sua saída. A defesa
do meio ambiente feita pelo seu ministério era vista, segundo alguns
setores, como empecilho ao crescimento econômico.
Em
agosto de 2009 Marina deixa o PT e se filia ao Partido Verde, pelo
qual concorre às eleições para presidente do Brasil em 2010 quando
recebe 19.636.359 votos. Eleição que foi vencida pela sua ex-colega
de governo, Dilma Roussef.
Abandona
o PV em junho de 2011 e anuncia o projeto de criação de seu próprio
partido, o Rede Sustentabilidade, para o qual precisaria do apoio
formal de 500 mil assinaturas de eleitores para obter o devido
registro legal. Apesar de sua popularidade, arregimenta 492 mil
eleitores e não consegue regularizar o partido no prazo legal
(encerrado em 5 de outubro de 2013) para concorrer às eleições que
acontecerão neste ano de 2014.
A
partir deste momento a estrela política de Marina parece entrar em
decadência.
Onde
ela fracassou políticos de menor expressão obtiveram sucesso. O ex
prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, montou o seu PSD – Partido
Social Democrático, em 2011. Outras duas agremiações foram
organizados em 2013, o Partido Solidariedade, liderado pelo deputado
federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força e, o mais
surpreendente de todos, o Pros – Partido
Republicano da Ordem Social, presidido por Eurípedes Júnior,
ex-vereador da cidade de Planaltina, interior do estado de Goiás.
Sem
um partido próprio, a promessa de implantar “um novo jeito de
fazer política”, ancorado num imaginário de sustentabilidade
ecológica e na pós-modernidade digital das redes sociais naufraga
deixando a candidata, apoiadores e mentores intelectuais em um dilema
angustiante; o que fazer?
A
solução encontrada foi se filiar ao PSB – Partido Socialista
Brasileiro, do também ex-aliado político do PT, Eduardo Campos,
governador de Pernambuco, que abandonou a coligação petista para
concorrer ao governo federal.
Às
pressas, esta foi a solução encontrada para evitar o ostracismo
político de Marina Silva e capitalizar seus votos para a sucessão
presidencial. A iniciativa foi saudada pela imprensa oposicionista
(maldosamente chamada por alguns de PIG – Partido da Imprensa
Golpista) como uma “jogada de mestre” que poderia impedir a
vitória de Dilma Roussef ainda no primeiro turno da eleição
presidencial e romper a polarização PT X PSDB lançando uma nova
força “progressista” no campo político.
Estas
especulações políticas eleitorais foram infladas pela conjuntura
em que os fatos aconteceram. Após o ápice dos protestos populares
ocorrido no mês de junho de 2013 – que continuou com menor
intensidade nos meses seguintes – a popularidade do governo Dilma
foi abalada alimentando os sonhos oposicionistas.
Enquanto
Dilma sempre foi candidata natural à reeleição, a oposição
buscava um nome. Neste quadro, a aliança Campos/Marina soou como uma
alternativa política para o enfrentamento contra o PT onde Marina e
Campos representavam o “novo”. Por mais vago que o adjetivo venha
a ser, em um período onde o protesto popular se fez presente nas
ruas, a aliança soou como uma grande vantagem.
Mas,
passado o impacto da novidade, os problemas da parceria inusitada
afloraram. O primeiro choque se deu no campo das personalidades das
duas lideranças; enquanto Eduardo Campos é tido como político
pragmático e desenvolvimentista, Marina é conservadora nos aspectos
sociais como descriminalização do aborto e união homoafetiva, além
de ser ironicamente tachada de “sonhática”.
Assim,
Marina representava um reforço momentâneo para a campanha do PSB
que, pelo menos por parte dos aliados da ex-senadora, era visto como
uma solução intermediária até a oficialização futura da Rede
Sustentabilidade.
O
colunista da Carta Capital, Marcos Coimbra escreveu que “Marina
Silva comporta-se como a convidada bem trapalhona na festa de Eduardo
Campos. Desde sua filiação ao partido, o governador de Pernambuco
amarga uma dor de cabeça após a outra” (n. 773 – 6/11/2013,
pág.44). A presença de Marina – e sua plataforma ecológica –
fez com que o DEM, partido ligado aos produtores rurais, abandonasse
a ideia de uma coligação com o PSB, projeto que Eduardo Campos
estava costurando com o deputado Federal Ronaldo Caiado há um bom
tempo. A partir destas constatações o cientista político, Pedro
Floriano Ribeiro, se perguntou em artigo publicado no Valor Econômico
de 8 de novembro de 2013. “Quando a campanha esquentar, os mundos
de Poliana e da realpolitik certamente irão se atritar diversas
vezes. Marina irá se adaptar ao projeto pessoal de Eduardo Campos,
ou tentará depurar o neoaliado e as alianças que vêm sendo
costuradas há tempos?”
Após
a morte de Eduardo Campos este quadro se alterou. Embalado pela
comoção pública causada pelo acidente que vitimou seu candidato (e
parte de sua equipe de campanha) à direção do PSB não restou
outra opção a não ser conduzir a problemática aliada à cabeça
da chapa.
Oficializado
o ato, os problemas urgiram. O coordenador-geral da campanha do PSB,
Carlos Siqueira, deixou o cargo afirmando que ela não representa o
legado de Campos e atirou “Minhas relações estão cortadas com
essa senhora”.
Agora
o tabuleiro do jogo eleitoral está alterado. A popularidade da
candidata Marina e o choque causado pela morte de Eduardo Campos,
segundo as primeiras pesquisas realizadas após o acidente, mostram
uma candidatura forte que ultrapassou o candidato do PSDB e ameaça,
inclusive, a reeleição do PT. Até o momento os altos índices nas
pesquisas e o pragmatismo eleitoral mantêm a coligação unida.
Resta saber se esta situação se sustenta e se as contradições
internas desta aliança não se encarregarão de revelar a
fragilidade de uma candidata, que, na prática, não tem partido de
sustentação e se vê obrigada a honrar compromissos assumidos por
um “partido-hospedeiro” ao qual se viu forçada a aderir por
conveniência.
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