Cartaz inglês demonstrando as más condições de trabalho no período da Revolução Industrial
No 1 º de maio, Dia Internacional do Trabalho (ou do trabalhador), um resumo da história do operário desde a antiguidade
A origem das
organizações dos trabalhadores pode ser buscada na antiguidade.
Existem relatos históricos de que o segundo rei de Roma, Numa
Pompilio (que governou entre 715 e 672 a.C) autorizou a criação de
colégios de artesãos, que se reuniam num mesmo local e tinham suas
divindades próprias. São conhecidas associações de ferreiros,
sapateiros, curtidores de couro, profissões exercidas por homens
livres em uma sociedade que convivia com a escravidão. Segundo
consta, essas associações não exerciam qualquer forma de regulação
do trabalho. Com o fim do
Império Romano esses grupos desaparecem.
Durante a Idade Média
não é conhecida nenhuma organização que possa evocar a ideia de
uma associação de trabalhadores. Neste período, apenas os monges
nas abadias e os servos nos feudos exercem ofícios produtivos.
A partir do século X
começam a surgir novas organizações de produtores que migram dos
mosteiros e das oficinas dos servos para as cidades, onde se
concentra o movimento econômico e mercantil em expansão. Surgem
então as guildas, nas quais os trabalhadores novamente se reúnem
segundo seus ofícios. A diferença é que agora elas possuem códigos
e regulamentos rígidos, que organizam desde o trabalho dos mestres,
oficiais e aprendizes até a forma final do produto. O código mais
antigo conhecido é o Livro dos ofícios de Paris, de 1258.
O poder das guildas com
suas regras rígidas se consolida, o que causa, por vezes, atrito com
a própria realeza que deseja para si o poder de nomear mestres
artesãos a revelia dos corporações e segundo seus interesses. O
fato é que, somente no século XVIII, quando a revolução
industrial dá seus primeiros passos é que as corporações de
ofícios entram em decadência e são finalmente extintas pelas novas
condições de trabalho criadas pelo sistema capitalista de produção.
É, portanto, a partir
da Revolução Industrial que nasce a matriz principal da moderna
organização dos trabalhadores, o sindicato. Desde os primeiros
estudos sobre a classe trabalhadora o pioneirismo do proletariado
inglês é assinalado. O jovem Engels, em 1845, já reconhecia esta
premissa – não deixando de anotar o papel da Revolução
Industrial – logo na apresentação de A situação da classe
trabalhadora na Inglaterra.
“A Inglaterra
constitui o terreno clássico dessa revolução, que foi tanto mais
grandiosa quanto mais silenciosamente se realizou. É por isso que a
Inglaterra é também o país clássico para o desenvolvimento do
principal resultado dessa revolução: o proletariado. Somente na
Inglaterra o proletariado pode ser estudado em todos os seus aspectos
e relações.”
Em outra passagem da
mesma obra Engels anota outra observação pertinente:
“As grandes cidades
são o berço do movimento operário: foi nelas que, pela primeira
vez, os operários começaram a refletir sobre suas condições e a
lutar; foi nelas que, pela primeira vez, manifestou-se o contraste
entre proletariado e burguesia; nelas surgiram a associações
operárias, o cartismo e o socialismo.”
Portanto, em que pese a
tradição de organização dos trabalhadores ao longo dos séculos,
é a partir da experiência capitalista e do consequente surgimento
do proletariado que surge o sindicalismo, um movimento que se
distingue de todas as formas anteriores de organização dos
trabalhadores. Ao proletariado, como novo agente da história, cabe
também uma nova forma de organização e está é o sindicato, ou
como apresentado na Inglaterra, a trade union.
O modelo da trade
union, uma organização formada a partir da reunião de sindicatos
locais, migrou para a França e a Alemanha e se difundiu pelo mundo.
O trade unionismo surgiu com objetivos estritamente econômicos;
obter melhores salários, regular a jornada de trabalho etc., e foi
uma resposta dos operários às condições que lhes eram impostas
pelo capital.
O papel político das
organizações proletárias hoje é reconhecido e aceito, mas no
início do processo de organização dos trabalhadores este papel não
estava bem claro, nem mesmo para os próprios operários. Apesar do
sindicato privilegiar a questão econômica imediata, as
consequências de seus atos eram inegavelmente de natureza política.
Portanto, rapidamente alguns setores do sindicalismo passaram a
defender abertamente a ideia de que as melhoras para a classe
trabalhadora só seriam efetivamente alcançadas com mudanças
radicais na organização política.
Esta posição política
é mais marcante no sindicalismo do continente europeu uma vez que o
movimento trabalhista inglês nunca desenvolveu claramente um projeto
de superação do capitalismo. Mas, mesmo fazendo esta ressalva, o
primeiro movimento revolucionário de origem operária surgiu na
Grã-Bretanha com o sapateiro escocês Thomas Hardy, sob influência
dos jacobinos franceses. Hardy funda, em 1791, a Sociedade
Correspondente de Londres, associação operária que mantinha
contato com outras associações jacobinas da Europa e que foi
bastante perseguida pelo governo até sua extinção em 1799.
Podemos apresentar três
linhas que definem a atuação do movimento sindical; a anarquista, a
socialista e a comunista, cada uma delas com suas doutrinas internas
e divisões. Estes grupos se fizeram presentes, em maior ou menor
grau, praticamente em todos os países onde a industrialização se
implantou no final do século XIX e início do XX.
Apesar de divergências
teóricas, de métodos, de atuação e de organização do aparelho
sindical, anarquistas, socialistas e comunistas concordavam com a
premissa de que a sociedade se divide entre explorados e
exploradores, sendo que cabe aos trabalhadores, enquanto classe
social, o papel de superar esta contradição e implantar uma nova
sociedade. Assim, parcela significativa dos sindicatos aproximam-se
dos partidos políticos de esquerda e se aliam a eles.
É necessário
esclarecer que as correntes anarquistas divergem das socialistas
quanto ao papel que o Estado ocupa neste processo. O anarquismo visa
mudar a estrutura da sociedade. E superar o capitalismo, substituindo
a autoridade do Estado por uma forma de cooperação entre indivíduos
livres. Este objetivo deve ser alcançado pela ação direta no campo
econômico e ideológico, sem recorrer a luta política partidária
O movimento socialista
e comunista, ao contrário, se aproximava cada vez mais da luta
política. Apesar de entenderem ser o Estado atual uma forma de
dominação burguesa, os socialistas acreditavam ser necessário
tomar em suas mãos o aparelho estatal.
Havia ainda um grupo
minoritário, menos ideológico e mais pragmático, que se preocupava
com as melhorias econômicas dos trabalhadores mas não se propunham
a revolucionar a sociedade, pregando a conciliação das classes
sociais . Entre eles se destacam o movimento sindical católico.
Estas organizações, de espectro mais conservador, não se
inclinavam para as atividades políticas ou partidárias, chegando,
muitas vezes, a condenar tal postura.
Assim, chegamos ao
século XXI com novas mudanças no mundo do trabalho se anunciando
mas mantendo a papel dos sindicatos como protagonistas centrais da
história do trabalhador.
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