quinta-feira, 1 de maio de 2014

Uma brevíssima história do Trabalho

Cartaz inglês demonstrando as más condições de trabalho no período da Revolução Industrial

 No 1 º de maio, Dia Internacional do Trabalho (ou do trabalhador), um resumo da história do operário desde a antiguidade


A origem das organizações dos trabalhadores pode ser buscada na antiguidade. Existem relatos históricos de que o segundo rei de Roma, Numa Pompilio (que governou entre 715 e 672 a.C) autorizou a criação de colégios de artesãos, que se reuniam num mesmo local e tinham suas divindades próprias. São conhecidas associações de ferreiros, sapateiros, curtidores de couro, profissões exercidas por homens livres em uma sociedade que convivia com a escravidão. Segundo consta, essas associações não exerciam qualquer forma de regulação do trabalho. Com o fim do Império Romano esses grupos desaparecem.

Durante a Idade Média não é conhecida nenhuma organização que possa evocar a ideia de uma associação de trabalhadores. Neste período, apenas os monges nas abadias e os servos nos feudos exercem ofícios produtivos.
A partir do século X começam a surgir novas organizações de produtores que migram dos mosteiros e das oficinas dos servos para as cidades, onde se concentra o movimento econômico e mercantil em expansão. Surgem então as guildas, nas quais os trabalhadores novamente se reúnem segundo seus ofícios. A diferença é que agora elas possuem códigos e regulamentos rígidos, que organizam desde o trabalho dos mestres, oficiais e aprendizes até a forma final do produto. O código mais antigo conhecido é o Livro dos ofícios de Paris, de 1258.
O poder das guildas com suas regras rígidas se consolida, o que causa, por vezes, atrito com a própria realeza que deseja para si o poder de nomear mestres artesãos a revelia dos corporações e segundo seus interesses. O fato é que, somente no século XVIII, quando a revolução industrial dá seus primeiros passos é que as corporações de ofícios entram em decadência e são finalmente extintas pelas novas condições de trabalho criadas pelo sistema capitalista de produção.
É, portanto, a partir da Revolução Industrial que nasce a matriz principal da moderna organização dos trabalhadores, o sindicato. Desde os primeiros estudos sobre a classe trabalhadora o pioneirismo do proletariado inglês é assinalado. O jovem Engels, em 1845, já reconhecia esta premissa – não deixando de anotar o papel da Revolução Industrial – logo na apresentação de A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.

“A Inglaterra constitui o terreno clássico dessa revolução, que foi tanto mais grandiosa quanto mais silenciosamente se realizou. É por isso que a Inglaterra é também o país clássico para o desenvolvimento do principal resultado dessa revolução: o proletariado. Somente na Inglaterra o proletariado pode ser estudado em todos os seus aspectos e relações.”

Em outra passagem da mesma obra Engels anota outra observação pertinente:

“As grandes cidades são o berço do movimento operário: foi nelas que, pela primeira vez, os operários começaram a refletir sobre suas condições e a lutar; foi nelas que, pela primeira vez, manifestou-se o contraste entre proletariado e burguesia; nelas surgiram a associações operárias, o cartismo e o socialismo.”

Portanto, em que pese a tradição de organização dos trabalhadores ao longo dos séculos, é a partir da experiência capitalista e do consequente surgimento do proletariado que surge o sindicalismo, um movimento que se distingue de todas as formas anteriores de organização dos trabalhadores. Ao proletariado, como novo agente da história, cabe também uma nova forma de organização e está é o sindicato, ou como apresentado na Inglaterra, a trade union.
O modelo da trade union, uma organização formada a partir da reunião de sindicatos locais, migrou para a França e a Alemanha e se difundiu pelo mundo. O trade unionismo surgiu com objetivos estritamente econômicos; obter melhores salários, regular a jornada de trabalho etc., e foi uma resposta dos operários às condições que lhes eram impostas pelo capital.
O papel político das organizações proletárias hoje é reconhecido e aceito, mas no início do processo de organização dos trabalhadores este papel não estava bem claro, nem mesmo para os próprios operários. Apesar do sindicato privilegiar a questão econômica imediata, as consequências de seus atos eram inegavelmente de natureza política. Portanto, rapidamente alguns setores do sindicalismo passaram a defender abertamente a ideia de que as melhoras para a classe trabalhadora só seriam efetivamente alcançadas com mudanças radicais na organização política.
Esta posição política é mais marcante no sindicalismo do continente europeu uma vez que o movimento trabalhista inglês nunca desenvolveu claramente um projeto de superação do capitalismo. Mas, mesmo fazendo esta ressalva, o primeiro movimento revolucionário de origem operária surgiu na Grã-Bretanha com o sapateiro escocês Thomas Hardy, sob influência dos jacobinos franceses. Hardy funda, em 1791, a Sociedade Correspondente de Londres, associação operária que mantinha contato com outras associações jacobinas da Europa e que foi bastante perseguida pelo governo até sua extinção em 1799.
Podemos apresentar três linhas que definem a atuação do movimento sindical; a anarquista, a socialista e a comunista, cada uma delas com suas doutrinas internas e divisões. Estes grupos se fizeram presentes, em maior ou menor grau, praticamente em todos os países onde a industrialização se implantou no final do século XIX e início do XX.
Apesar de divergências teóricas, de métodos, de atuação e de organização do aparelho sindical, anarquistas, socialistas e comunistas concordavam com a premissa de que a sociedade se divide entre explorados e exploradores, sendo que cabe aos trabalhadores, enquanto classe social, o papel de superar esta contradição e implantar uma nova sociedade. Assim, parcela significativa dos sindicatos aproximam-se dos partidos políticos de esquerda e se aliam a eles.
É necessário esclarecer que as correntes anarquistas divergem das socialistas quanto ao papel que o Estado ocupa neste processo. O anarquismo visa mudar a estrutura da sociedade. E superar o capitalismo, substituindo a autoridade do Estado por uma forma de cooperação entre indivíduos livres. Este objetivo deve ser alcançado pela ação direta no campo econômico e ideológico, sem recorrer a luta política partidária
O movimento socialista e comunista, ao contrário, se aproximava cada vez mais da luta política. Apesar de entenderem ser o Estado atual uma forma de dominação burguesa, os socialistas acreditavam ser necessário tomar em suas mãos o aparelho estatal.
Havia ainda um grupo minoritário, menos ideológico e mais pragmático, que se preocupava com as melhorias econômicas dos trabalhadores mas não se propunham a revolucionar a sociedade, pregando a conciliação das classes sociais . Entre eles se destacam o movimento sindical católico. Estas organizações, de espectro mais conservador, não se inclinavam para as atividades políticas ou partidárias, chegando, muitas vezes, a condenar tal postura.
Assim, chegamos ao século XXI com novas mudanças no mundo do trabalho se anunciando mas mantendo a papel dos sindicatos como protagonistas centrais da história do trabalhador.

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