quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Militância ganha importância na crise política

A militância trabalha para vitória de Dilma
A reeleição de Dilma Rousseff, e sua vitória apertada no segundo turno no final de 2014, foi para muitos resultado de um grande plano de marketing político comandado por João Santana. No primeiro turno o acerto foi a “desconstrução” da candidata Marina Silva, que roubava votos tanto de Dilma quanto de Aécio e desfilava como tendo reais possibilidades de vencer o segundo turno. Marina virou o alvo preferido do PT e do PSDB.

"Houve uma 'desidratação' eleitoral de Marina Silva, orquestrada, principalmente, pela campanha da presidente Dilma Rousseff. Dilma é a grande vitoriosa desse embate. Foi uma estratégia muito acertada", avaliou o cientista político Paulo Baía, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) à reportagem do site da BBC Brasil.


Dada partida ao segundo turno, com Aécio e Dilma tecnicamente empatados (isto, segundo pesquisas mais confiáveis), uma nova “batalha de comunicação” entre as candidaturas teve início. Nesta etapa, novamente as avaliações dão conta da centralidade do marketing político. O jornalista Ricardo Noblat, em seu blog ancorado em O Globo, ao avaliar que Dilma venceu Aécio no debate da Bandeirantes em 14 de outubro diz: “Aécio não estava mal. Apenas foi surpreendido por um Dilma que fez direitinho seu dever de casa com o marqueteiro João Santana”.

Para os descolados, a grande vedete do marketing eleitoral foi a internet. “A campanha eleitoral ganhou um novo palco nesta eleição: as redes sociais, principalmente o Facebook e o Twitter, que os candidatos passaram a utilizar para bombardear os eleitores com informações sobre si e também acusações aos adversários”, diz a abertura da matéria Redes sociais crescem, mas não definem eleição, publicada pela Carta Capital (leia AQUI)

Tudo isso prenunciava um admirável mundo novo onde a tradicional militância nas ruas – marca registrado do Partido dos Trabalhadores – não passava de um anacronismo desnecessário, afinal, só o marketing político salva.

Pouco foram os analistas que, para explicar a vitória (que para muitos se deu em uma virada nos últimos dias) assinalaram a participação da militância. No entanto, ela esteve presente nas ruas, mesmo sem coordenação ou ajuda da direção da campanha. A CUT convocou os sindicatos para diversas manifestações que se deram sem a presença oficial de representantes da candidata; os movimentos organizados de estudantes e de jovens fizeram a sua parte e, individualmente, vários filiados e simpatizantes saíram às ruas fazendo campanha; lotaram com suas bandeiras a rua em frente ao TUCA durante um ato de artistas e intelectuais em apoio à Dilma e na avenida Paulista, comemorando a vitória. Isto em São Paulo, onde a performance petista não foi das melhores.

Mas foi como se nada disto tivesse tido qualquer importância para manter a pequena margem com que a vitória se deu. Garantida a recondução ao Planalto, a cúpula política do governo se portou como se a vitória tivesse ocorrido sem a participação desta mesma militância.

Mas a oposição, avaliando que a vitória petista se deu por uma margem muito baixa, se viu em uma posição confortável para tensionar o novo governo que sequer ainda havia tomado posse. Ao jornalista Roberto d'Avila o ex-candidato Aécio Neves declarou; “perdi ganhando”, ao mesmo tempo afirmou que Dilma “ganhou perdendo”.

Deu se então, inicio a um projeto golpista de afastar a presidente eleita apelando para um eventual processo de impeachment baseado na hipótese de cumplicidade com os escândalos de corrupção que envolveram parte do PT e de partidos da base aliada (não que a oposição não estivesse envolvida em casos semelhantes, apenas não se deu tanta ênfase na divulgação e investigação destes casos).

Mas o fato é que os golpistas não conseguiriam atingir seus objetivos apelando simplesmente para os recursos de campanhas midiáticas ou maquinações palacianas. Uma vez que a tese do impeachment não encontra pontos de apoio legal é preciso “apoio popular” para que ele possa se concretizar. E uma importante parcela da população – um setor majoritariamente branco e de classe média, segundo vários analistas – aderiu à ideia (1).

O resultado é que antes do novo governo completar seis meses ele estava na defensiva e se viu as voltas com uma crise que superou em muito suas piores previsões.

Afastada da militância, que sempre foi vista – inclusive por seus oponentes – como o grande trunfo petista, Dilma estava politicamente acuada em um Congresso conservador e hostil. Além do mais, uma crise econômica, que apesar de real, foi inescrupulosamente inflada para aumentar seu impacto junto à população, terminou o estrago.

A adesão às regras tradicionais do jogo político, uma certa conciliação de interesses visando manter a governabilidade e a negativa em aprofundar o diálogo com a sociedade, principalmente, com os grupos organizados que deram sustentação a sua campanha saiu caro demais. Um dos que mais criticavam esta visão equivocada foi o líder do MST, João Pedro Stédile. Em uma de suas declarações - dada em uma reunião da CUT realizada no sindicato dos bancários de SP – ele afirmou que o governo não fazia a “leitura” correta do ocorrido no segundo turno.


Avaliando que a conjuntura não era das melhores para os trabalhadores, a direção da CUT deliberou por organizar uma grande frente progressista para defender direitos conquistados e combater o retrocesso político tramado por setores conservadores. Para alcançar este objetivo seria necessário defender a legalidade democrática e impedir a desestabilização do governo Dilma. Assim, a central organizou e liderou, por todo o Brasil, dezenas de manifestações contrárias ao golpe que, aparentemente, estava em franca organização e era defendido publicamente por grupos de direita.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, em mais uma prova da visão equivocada de grupos palacianos, recebeu algumas ligações do governo questionando sobre a pertinência de tais atos e manifestações.

Enquanto isso, a campanha pelo afastamento da presidente era engrossada junto à opinião pública, turbinada por setores da mídia, uma parte compromissada com o atraso, outra simplesmente viciada em sensacionalismo barato. Temperando o clima uma escalada de agressões (a maioria eram grosserias pela internet, mas algumas chegaram a se concretizar), manifestações de intolerância e até um atentado a bomba contra o Instituto Lula preocupavam as mentes mais progressistas.

Mas como a crise econômica não amainava, o espírito golpista da elite prosperava e a popularidade da presidente despencava, a “ficha caiu” e o apelo à militância se fez público. O site brasileiro do El País escancara: Dilma ataca ‘vale tudo’ e recorre a militância organizada e a Renan, cuja abertura já diz tudo; “Diante da maior crise política de seu Governo e com poucas cartas na manga, a presidenta Dilma Rousseff (PT) repete o ensaiado no começo do ano: tenta se apoiar nos movimentos sociais aliados”. (leia AQUI )

Ao que tudo indica, finalmente o governo Dilma vai voltar a fazer política na verdadeira acepção da palavra.

---------------------------------------
(1) Para conhecer o perfil dos manifestantes oposicionistas veja pesquisa coordenada por Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, e Esther Solano, professora de relações internacionais da Unifesp. http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/14/politica/1429036333_476876.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário