domingo, 29 de janeiro de 2017

Tributo ao grande artista Rodolfo Zalla

Em São Paulo, na biblioteca do Memorial da América Latina, dia 28 de janeiro, foi comemorado o Dia do Quadrinho Nacional com a entrega do 33º Troféu Angelo Agostini. Além da premiação dos melhores do ano, o evento contou com o lançamento do livro Tributo a Rodolfo Zalla, uma obra coletiva com mais de 130 autores, entre desenhistas e escritores.
Zalla nasceu argentino em 20 de julho de 1931 e morreu brasileiro em 19 de junho de 2016. O desenhista mudou-se para o Brasil em dezembro de 1963, sempre trabalhando com histórias em quadrinhos. Ele foi, junto com o italiano Eugenio Colonnese e o português Jayme Cortez os grandes responsáveis pelo que existe hoje de profissionalismo nas Histórias em Quadrinhos brasileiras.

O livro homenagem lançado pela editora Criativo publicou, entre as grandes obras, a minha pequena caricatura do mestre (reproduzida acima).  E também para relembrar o desenhista a quem tive o prazer de conhecer, escrevi o pequeno texto que se segue.

UM CALAFRIO PERCORRE O BRASIL

Começava os anos 80 do século passado e os jovens, operários, as comunidades de bairro, enfim, os cidadãos brasileiros ocupavam as ruas para derrubar a ditadura. Eu não podia ficar de fora e, para protagonizar a história, me mudei do interior para a capital.
Na verdade eu queria era ser chargista político: participava do Salão de Humor de Piracicaba e fazia caricaturas do general Figueiredo, do Delfim Netto, Ronald Reagan, entre outros ilustres personagens da época.
Em São Paulo descobri nas bancas a revista Calafrio, uma maravilhosa experiência de HQ brasileira. Como entre meus interesses também estava a leitura de Poe, Lovecraft, H.G. Wells e a literatura gótica, escrevi e desenhei uma História em Quadrinhos onde um assaltante viajava em um trem quando ao seu lado senta uma linda mulher usando o mesmo colar que ele acabara de roubar. Ao final o mistério se revela, pois a passageira, na verdade, é a morte que vem lhe buscar.
Peguei o endereço do Zalla (ficava no expediente da revista) e bati à sua porta. Fui muito bem recebido, convidado a entrar e tivemos uma conversa franca. Não dava para publicar a história pois o desenho era fraco (era verdade) mas o roteiro era interessante e o que ele precisava era de roteirista. Será que eu topava trazer novos textos para avaliação? Topei na hora e acabei me tornando um dos roteiristas de sua editora, a D-Arte, e das revistas Calafrio e Mestres do Terror.
Elaborava os argumentos, fazia os roteiros (eu “rafeava” em uma folha sulfite a página com o texto e uma ideia de enquadramento), passava na casa do Zalla, conversávamos, ele escolhia os melhores e eu voltava depois quando recebia um cheque em pagamento dos roteiros desenhados.
Não sei dizer agora quantos roteiros escrevi, mas acho que a maior parte acabou sendo finalizada pelo Flávio Colin, a quem nunca conheci pessoalmente.
O que matou a D-Arte (e outras iniciativas no campo dos quadrinhos daquele período) foi a crise econômica do final dos anos 80 e início dos 90. A inflação alta e a sucessão de planos econômicos inviabilizaram as publicações. Mas neste momento não fazia mais roteiros pois já trabalhava no jornalismo diário.
Não estreitamos nossa amizade que permaneceu neste campo, digamos, profissional, mas conversamos tempo suficiente para que eu formasse a opinião de que ele fazia histórias de terror pois eram as mais populares mas que, na verdade, ele gostava mesmo era de quadrinhos de aventura. Zalla chegou a comentar comigo que lamentava muito o fato de seu western, Johnny Pecos, não ter emplacado pela D-Arte.
A única reclamação que tenho deste período é que nunca tive coragem de lhe pedir um original assinado.
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Para saber mais sobre Rodolfo Zallla


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