segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O dilema petista


Há várias semanas nas redes sociais, principalmente as ligadas aos militantes petistas, vem ocorrendo um debate sobre a conveniência de se aliar aos partidos golpistas para a escolha do presidente da Câmara dos Deputados. Os defensores da ideia alegam que o PT, como segunda bancada da casa, asseguraria assim presença na mesa diretora e na presidência de algumas comissões importantes, o que lhe daria algum poder de influenciar o ritmo e a pauta de votação.

Esse “excesso de pragmatismo” foi duramente criticado por militantes e parlamentares contrários ao acordo. Chamado a opinar sobre o caso, o Diretório Nacional aprovou uma resolução com recomendações gerais que, na prática, deixa a decisão para a bancada mas abre a possibilidade de concretizar o acordo.
Não me parece necessário discutir os motivos daqueles que, por princípio, são contrários a qualquer negociação com os golpistas. No entanto, examinar as possíveis “vantagens” da aliança com a direita é um exercício interessante. A maior delas já foi apresentada; os cargos e o poder que eventualmente pode-se obter sobre o funcionamento da casa e, assim, fazer uma espécie de “resistência” interna aos desmandos da maioria.
A questão importante é; na atual conjuntura política isso chega a ser uma vantagem?
As esquerdas estão isoladas no parlamento e cargos não afetarão essa realidade. Somente uma nova eleição recompondo os poderes Legislativo e Executivo com quadros mais progressistas pode alterar essa situação. Por enquanto, continuaremos a reboque da direita.
Este acordo com os partidos tradicionais, em uma realidade de manipulação e embustes midiáticos não pode se voltar contra o projeto político do PT a partir desta aliança, no mínimo, polêmica?
O PT está às vésperas de um novo Congresso que pretende realinhar o partido para enfrentar os próximos desafios políticos e sociais e fortalecê-lo para recuperar a representatividade eleitoral perdida no último pleito municipal. Como os futuros dirigentes vão conduzir o partido a partir dessa aliança que mais divide as forças do que unifica?
Em 2018 haverá uma nova e importante eleição que poderá definir qual o espaço que o PT ocupará no Brasil dos próximos anos. O discurso petista do momento é o de empoderamento das bases para construir uma militância aguerrida e retomar o protagonismo eleitoral e político do partido. Como a militância vai reagir a uma aliança com os golpistas neste momento de reorganização da sigla?
Ficam as dúvidas: existe algum projeto mais consistente por trás dessa aliança ou trata-se realmente de um movimento imediatista? Vale a pena arriscar o futuro para ocupar alguns cargos por alguns meses em uma conjuntura desfavorável? Como os eleitores reagirão em 2018 frente aos candidatos petistas a partir dessa aliança?
A resposta a estas e outras perguntas precisa ser dada nos próximos dias sob pena de comprometer todo o projeto político de uma geração.



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